"Mulheres do Muro" fazem oração em Jerusalém
O porta-voz da polícia israelita, Micky Rosenfeld, declarou à agência noticiosa francesa AFP, que mil ultraortodoxos foram mantidos à distância de um grande grupo da associação "Mulheres do Muro", que faziam a oração mensal e envergavam o xaile de oração, na sequência de uma decisão judicial que as autorizou a rezar no local.
Os elementos do grupo ultraortodoxo tentaram forçar a passagem, chamaram "nazis" aos polícias e insultaram as mulheres. Atiraram garrafas de água, lixo, cadeiras plásticas e ovos contra os polícias e contra as militantes, de acordo com um correspondente da AFP no local.
Dois polícias ficaram ligeiramente feridos.
A polícia deteve cinco ultraortodoxos por "desordem pública", precisou o porta-voz.
Assim que as orações terminaram, os agentes escoltaram as mulheres até um autocarro, que as levou para fora da Cidade Velha, depois de ter sido alvo de várias pedras, acrescentou.
Durante mais de 20 anos, estas militantes pediram autorização para rezar no local da forma tradicionalmente reservada aos homens: em voz alta, com xaile de oração ("talit"), filactério (pergaminho em que estavam escritos os mandamentos da lei), 'kippah' (um pequeno barrete usado para cobrir o alto da cabeça) e a ler a Torá (livro que contém os textos sagrados dos judeus).
Até aqui, as mulheres apenas podiam rezar junto ao Muro das Lamentações em silêncio e afastadas. Caso não respeitassem estas regras, eram detidas pela polícia ou importunadas pelos ultraortodoxos.
Em abril, um tribunal considerou que o comportamento destas mulheres, que rezavam como entendiam e gostavam, não causava qualquer tipo de desordem, sendo os atacantes o problema.
O tribunal decidiu que as "Mulheres do Muro" podiam rezar no local, seguindo os rituais escolhidos.
"Fizemos uma oração histórica, mesmo tendo sido penoso", declarou à AFP a porta-voz da associação, Shira Pruce.
De acordo com a porta-voz, cerca de 400 militantes participaram na oração. "Estamos muito orgulhosas e contentes por as nossas mulheres terem rezado em liberdade e em paz", afirmou, saudando o papel da polícia.
Antes desta oração, os rabinos ultraortodoxos apelaram às estudantes dos seminários talmudicos para contrariarem a ação destas militantes, deslocando-se ao Muro para rezar. Milhares de estudantes femininas encheram a zona reservada às mulheres.
As militantes decidiram, então, rezar na esplanada defronte do Muro e não junto ao Muro, acrescentou Pruce.
Esta associação militava para que o acesso ao Muro das Lamentações seja garantido a todos, incluindo às correntes liberal e conservadora do judaísmo, minoritárias em Israel, que garantem às mulheres o mesmo lugar dos homens.
Mas, para os adversários ultraortodoxos, essa posição viola os preceitos religiosos judeus e constitui "uma provocação".
O Muro das Lamentações é o lugar mais sagrado do judaísmo, último vestígio do segundo templo destruído pelos romanos, em 70 da era atual.